No passado verão fui a esta bela povoação, de terras de Leiria, para
poder abraçar ao meu amigo Luís.
A amabilidade, e a gentileza, deste bom amigo meu, aproximou-me às minhas raízes e fez com que pudesse abraçar certos aspectos rurais dos que me fui distanciando com o tempo. O certo é que fui muito feliz enquanto por aqui andei, convivência de horas em conversas dessas que parece que nunca tem fim…
Além da hospitalidade, no aspecto pessoal, imensurável, a divulgativa,
no tom tão peculiar deste contador de historias, incomparável, que é este
grande amigo meu… Cuidado, que engancha, por empolgante!...
E que começa assim...
ORTIGOSA. Não sei a origem desta palavra. Penso que se refere a
uma área verde regada por dois ou três ribeiros e algumas fontes naturais onde
corre água fresca durante todo o ano.
Os terrenos agrícolas são muito bons e nesta várzea podiam cultivar-se belas hortas familiares.
Seria Horta “gosa” ?
Pelo passar dos anos houve algumas transformações linguísticas e poderá ter evoluído para a palavra que hoje conhecemos Ortigosa. Estes são pensamentos meus. Deixo o assunto para os entendidos e os estudiosos destas matérias.
Era uma povoação simples com características rurais e era também um
lugar de passagem entre o Norte e o Sul.
As habitações eram modestas e quase todas do mesmo estilo. As divisões
da casa mais importantes eram a sala e a cozinha. Os quartos, apenas dois ou
três, eram pequenos. Cabia neles apenas uma cama encostada à parede. Não havia
roupeiros nem guarda fatos.
A roupa era a mesma todos os dias. Havia um dia em que vestiam a
roupa domingueira para poderem lavar a que usavam diariamente.
Nas últimas décadas sofreu grandes alterações. Nasceram aqui várias
empresas a nível nacional e internacional que trouxeram novas oportunidades de
vida para os residentes. Vieram também muitos emigrantes na procura de trabalho
e aqui se estabeleceram com as suas famílias.
Hoje o aspecto rural desapareceu. Deixaram de se ver pelos caminhos e
pelos campos os carros de bois e as carroças puxadas pelos burros. Os
campos começaram a ser lavrados por tractores e as mondas manuais foram
substituídas pelas químicas.
Ouvi contar ao meu pai que nasceu em 1913, e também ele ouviu contar
aos seus pais e outras pessoas mais velhas que ele, que no local onde hoje
existe a Igreja, havia uma pequena capela, já dedicada a Santo Amaro, bispo da
regra de São Bento.
Nessa Capela se hospedou um padre que veio do Brasil,
carregado de ouro e outros valores. Foi este padre que mandou construir a
actual Igreja.
Este padre construtor era bastante activo e quando as coisas não
avançavam ele então dizia que as obras têm sempre atrasos porque se há pedra
não há ferro e se há cal não há trabalhadores.........havia de faltar sempre
alguma coisa para que a obra não avançasse.
Nesse tempo a povoação foi-se estendendo à volta da Igreja. Apareceram
os comerciantes com as suas tabernas e os artífices com as suas oficinas. Havia
ferreiros, sapateiros, costureiras e carpinteiros ali perto do centro da
aldeia.
Mais tarde, contava também o papá, que o caminho de terra batida, que
ligava esta povoação às outras e que se estendia da Figueira da Foz e a
Leiria foi mandado arranjar e assim andavam os homens com carros de
bois a transportar pedra que iam deixando nas beiras laterais.
Depois outros trabalhadores partiam as pedras grandes e acertavam
todo o pavimento para se poder caminhar.
Com as novas medidas deste Governo, esta freguesia está na lista das
que vão desaparecer e juntar-se a outras maiores. A história faz-se todos os
dias, mas nem sempre com as melhores políticas.
Obrigado amigo pela tua hospitalidade. Bem hajas.
Abraços como os que nos demos...
Abraços como os que nos demos...