Parafraseando o escritor Ruben A., que foi um apaixonado por Carrêço, na década de 40 do século XX escrevia assim – “Ai esta palavra Montedor, lugar maravilhoso da freguesia de Carrêço, típica aldeia alto-minhota, entre o mar e a serra; o farol a alumiar cá pra baixo, os moinhos de vento a girar, a estepe milenar persistente da Gandra, a par de uma beleza panorâmica sem limites.”
Carrêço, estende-se entre o mar e a serra, divide-se em quatro lugares: Carrêço, Montedor, Paço e Troviscoso. Entre areia dourada e grandes pinheirais, campos verdejantes alimentados pela humidade da brisa marinha, que os seus lavradores cultivam desde sempre, maioritariamente, o milho. Com a cultura do milho nasceu a necessidade da sua transformação e o aparecimento dos moinhos
Nos lugares de Carrêço, Pacô e Troviscoso, os lavradores construíram moinhos movidos por água.
Os moinhos de água tem uma roda horizontal, a qual está ligada ao eixo que movimentava a mó. Outros, não nesta comarca, eram movidos por uma roda vertical, as azenhas.
Entretanto os lavradores do Lugar de Montedor, construíram moinhos movidos pelo vento: moinhos do Petisco, do Marinheiro e de Cima, situados no promontório de Montedor, hoje conhecido pelo monte do Farol.
Quanto aos moinhos de vento, um tem velas de pano (moinho do Petisco) e os outros dois tem velas trapezoidais de madeira (moinhos de Cima e do Marinheiro), considerados uma raridade em Portugal.
No século XX, ao finalizar a década dos 40, surge em Carrêço a moagem electromecânica. Dos anos 50 aos 60 a utilização dos moinhos de água, e de vento, vai diminuindo gradualmente. Con esta transformação vai-se perdendo a imagem tradicional da ida ao moinho; do burro, ou cavalo, carregado de sacos de farinha; acompanhado pelo lavrador, ou pela lavradeira. Mas os Moinhos de vento de Montedor seguem vivos, o seu cata-vento, sempre a indicar a direcção e o sentido do vento. O entrono, convida-nos a relembrar a força dos lavradores de Carrêço e o seu engenho na utilização da energia eólica.
Um grande poeta da nossa terra, que ademais foi um dos meus professores de língua portuguesa, Pedro Homem de Melo, escreveu assim sobre estes belos lugares...
MOINHO DAS QUATRO VELAS
Moinho das quatro velas
- Moinho de Montedor –
Quatro velas de madeira
Decepadas pelo ar,
Enquanto há braços que alongam
E refrescam e baptizam
Os nossos olhos cansados...
Braços nus. Braços de gente.
E o Floriano dança o Velho,
Dança o António a Cana Verde
E dança o Góta o Vicente!
Altas velas de madeira
- Moinho de Montedor –
recordam círios de altar.
Fogem sombras de fogueira
Ou braços de bailadores?
Floriano, António, Vicente
Lembram as ondas do mar...
Mas sem barcos, mar de “argaço”.
À transparência das águas,
Quase até que adivinhamos
Firmes as pernas e os pés
De quem baila mas vivendo
A fazer frente às marés.
Por detrás desse moinho
- Moinho de Montedor –
Domingos Enes Pereira
Nasceu. E foi junto dele
Que se tornou bailador...
Marés de música cheias!
Floriano, António, Vicente,
Como o azul das suas veias
Com certeza que não mente.
A par daquele moinho
– Moinho de Montedor -
(O das velas de madeira!)
Dança o António a Cana Verde
E o Floriano dança o Velho
E dança a Góta o Vicente.
(Helénico, intacto, inteiro)
Surge, ainda em nossa frente,
O perfil do Fandangueiro!)
Floriano, António, Vicente,
Como, o azul das suas veias
Com certeza que não mente,
Vêm de perto o vêm de longe
Marés de música cheias?
Moinho de quatro velas
Decepadas pelo ar!
Bailam três moços com elas,
Depondo círios no altar
Da minha saudade, à beira
Do farol de Montedor,
Dando luz – luz traiçoeira...
A luz que me há-de queimar!
PEDRO HOMEM DE MELO
Que boas aquelas amoras, e que doces, quando o dia chegava ao seu fim... mas ainda deu para saborear as artes culinárias da mi amiga Augusta: com tão excelente companhia quem quer ir-se embora... foi o dia... foi o dia... por isso fui feliz em Carrêço!