sábado, 30 de octubre de 2010

QUINTA DE SÃO GENS




Mais conhecida, pelos vizinhos, como Quinta Agrária. Também foi denominada Quinta do Viso. Está situada na cidade da Senhora da Hora, concelho de Matosinhos, à face da Estrada da Circunvalação. Pertenceu à freguesia de Ramalde e, antes da criação desta, à de Cedofeita.
A casa e os jardins são belos exemplares de arquitectura civil do século XVIII.






É uma velha quinta murada, próxima de um cabeço que na época da romanização terá funcionado de posto de vigia (ou "Viso"), e onde, na época medieval, terá sido erguido um pequeno templo em honra de São Gens.
Esteve ligada, durante séculos, ao morgadio instituído em Ramalde a meados do século XVI, por João Dias Leite.






Terá sido durante a administração de D. Maria Leite (falecida em 1738), ou dos filhos, que se realizaram as obras delineadas por Nicolau Nasoni, obra que deu-lhe enobrecimento no Porto.







Inicialmente esteve constituída por um corpo rectangular, com um torreão central recuado, grande pátio fronteiro à casa, escadas exteriores, e passagem central com acesso ao rés-do-chão.





Na década de 1920, a casa sofreu um incêndio, vindo a ser remodelada por um rico emigrante retornado do Brasil que a comprou aos antigos proprietários. Foi então que lhe foi acrescentado um prolongamento para Norte, ampliando o pátio para o mesmo lado, suprimindo as escadas exteriores e ajardinando o terreiro fronteiro com canteiros, palmeiras e arbustos, ao gosto expandido então, entre nós, pelos "brasileiros". Supõem-se que foi nessa altura que se transferiram as estátuas, tanque e bancos atribuídos a Nasoni.





Em 1928, a Quinta foi adquirida pelo Estado para nela instalar a Estação Agrária do Douro Litoral. Na década de 1930, o ajardinamento do pátio foi, de novo, remodelado e plantado com fruteiras. Ao finalizar a década de 1980, sob a orientação do Arqt.º Ilídio de Araújo, foi realizado novo arranjo do jardim.
Das obras supostamente delineadas por Nasoni, subsistem actualmente a estrutura básica da casa, o pátio murado com portão armoriado e janela mural artisticamente enquadrada, uma dezena de notáveis esculturas em granito, de salientar um conjunto de quatro intituladas "Primavera", "Estio", "Outono" e "Inverno". Subsistem ainda duas fontes, um cruzeiro, muros e uma fonte de uma bica, à retaguarda da qual está, voltada para o centro do terraço, uma escultura representando uma quimera de mulher. Além destas obras, pode ainda ser admirado um tanque-lago enquadrado por quatro bancos de pedra que ocupa a posição central de um belo jardim.






Actualmente é uma das quintas de apoio à acção da Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro-e-Minho.



domingo, 17 de octubre de 2010

MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE MOREIRA



Este Mosteiro, na distancia, apresenta-se-nos nobre e altivo, com a seguridade de quem conseguiu vencer o tempo.




Os Cronistas, como Nicolau Santa Maria, fazem remontar a sua existência a 862, o ano em que Dona Gontina efectuou várias doações a um convento em Gontão. O que leva a pensar que a primeira “casa” deve ter tido a sua origem em Gontão.




A existência dum documento datado de 915 no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, refere-se a "eglesia Santi Salbatoris".




No livro "O Mosteiro Crúzio de Moreira", o autor refere-se à primeira prova documental, de 1027, fazendo referencia a um conjunto de doações de terras que beneficiavam o "(...) Sancti Salvatoris Aulam Dei (...)". Foram feitas outras doações entre 1042 a 1087, em que Tructesindo Guterres doa a quinta e parte dos seus bens ao Mosteiro.





Por vontade e esforço do Prior D. Henrique Brandão, as obras de reconstrução da Igreja e Mosteiro iniciaram-se em 3 de Maio de 1588, tendo sido concluídas 34 anos mais tarde, no dia 3 de Maio de 1622.





Mas, Augusto Vieira, (com concordância de Pinho Leal) refere-se assim: "o primitivo convento de Moreira foi onde é a ermida de São Jorge de Gontão, sendo também esta a sua invocação, e dela foi fundadora D. Gontina, senhora das Pedras Rubras, no ano 900 de César. O abade D. Mendo é que o removeu em 1060 para o sítio actual, sendo a nova igreja benzida pelo bispo do Porto, D. Hugo, e chamando-se desde então do Salvador.





O convento do Salvador teve doações importantíssimas, citando-se entre muitas as de Soeiro Mendes da Maia, em 1123 (era de César), e as de Fructesindo Gutierrez em 1116.





Também fazem referencia a uma relíquia do “Sagrado Lenho”, a qual durante as guerras da autonomia deu-se por desaparecida, em 1510 foi reencontrada pelo prior Vasco Antunes debaixo da pedra d'ara do altar-mor, dentro de um antigo relicário.




O Couto do Mosteiro de Moreira, foi concedido por D. Afonso Henriques, antes de 1170.





Em 1609 foi eleito em Coimbra Prior geral, D. Miguel de Santo Agostinho. Este em 1611 encomendou ao Desembargador na cidade do Porto, Dr. Gabriel Pereira de Castro, o tombo das terras do Mosteiro de Moreira e sua demarcação.




Os seus marcos com inscrição A MR 1611 ou A MR 1612, ainda hoje podem ser vistos no Mosteiro.




Em 1676 D. José da Graça mandou fazer o retábulo da Capela Mor e a tribuna. Foi encomendando ao mestre entalhador Jerónimo da Costa.




O Mosteiro de Moreira, como outros da congregação, foi extinto no ano de 1771 por Breve do Papa Clemente XIV expedida a instância de D. José I.




O mosteiro, com a sua quinta, foi vendido a Domingos Leonardo Farinha, de Moreira, em 1772. No entanto os religiosos, sendo desta vez os cónegos de Mafra, não demoraram em fazer a sua recuperação. Só mais tarde, com a expulsão de todas as ordens religiosas, isto em 1834, é que se faz a primeira venda pública, ao Desembargador Luís Lopes Vieira de Castro, para sua residência. Passados quarenta anos, a propriedade volta a passar de mão, desta vez para Dª Rita de Moura Miranda de Magalhães.




A Igreja de São Salvador de Moreira, hoje Igreja Matriz, é um edifício seiscentista cuja fachada em cantaria embora imponente, é austera, pesada e sem o brilhantismo de mais pequenas catedrais do seu tempo. As duas torres sineiras encontram-se na cabeceira da Igreja. Na torre Norte, destaca a inscrição: 1695.
A sua frontaria é dividida verticalmente em três tramos separados por pilastras lisas encabeçadas por capitéis de estilo jónico junto à cornija. Horizontalmente é dividida em 2 pisos, separados por cantaria lisa e pesada.

No piso superior, no tramo central, abre-se um imenso janelão rectangular com o topo em arco perfeito. A ladeá-lo, antes da reforma de 1884, estavam dois janelões, agora enchidos com pedra. Logo acima da Cornija, uma singela varanda balaustrada adorna a empena em cujo tímpano mora o relógio. Esta, de forma triangular, é rematada em cada canto por uma cruz.





No piso térreo, três enormes portões em ferro forjado, separados por grossas colunas de granito, dão entrada para uma Galilé relativamente apertada, em cujo lado direito se encontra a capela mortuária, que em tempos foi dedicada a São Jorge e serviu de Baptistério. Na entrada central temos a inscrição "1725 / reformada em 1884". Passando-a, no chão encontramos várias pedras com números gravados a marcar sepulturas, que até 1837 só se faziam em lugar sagrado.





Acedemos ao templo por amplo pórtico todo em granito lavrado. O seu topo é em arco de meio ponto.
A ladeá-lo dois pares de colunas, assentes em pedestais, cuja base é finamente trabalhada em cruzetas e besantes em alto relevo. Daí, até aos capitéis coríntios as colunas são elegantemente estriadas. A nave, gigante rectangular, tem a vinte metros de altura um tecto arredondado e, em caixotões de tijolo estucado.




Passado que é o pórtico, no seu lado esquerdo, depois do coro, está interessante conjunto pintado em madeira, encaixilhado em soberba moldura. Trata-se de um quadro das almas, sobrepujado por outro da Santíssima Trindade. Ainda neste lado, duas Capelas se nos apresentam: a do Senhor dos Passos e a de Santo Agostinho. Do lado direito, a Capela do Senhor Crucificado e a de São Teotónio. No seu meio uma imagem de Jesus.




A primeira destas quatro localizada a meio da nave, iluminada por janela e guardada em púlpito abobadado e pintado, a imagem do Senhor dos Passos que antigamente, no 2º Domingo da Quaresma, saía em procissão . A rematar o retábulo que lateralmente nos apresenta caixas de relicários embutidas, alguns anjinhos delicadamente esculpidos. Na sua base, o sacrário a que já se chamou, do Santo Lenho ou Relicário da Cruz. Sob este jaz o Senhor Morto. Todo este conjunto foi em 1996 dourado.




A esta, segue-se a Capela de Santo Agostinho, que tal como a precedente é em mármore rosa e verde lavrada, no entanto, ao contrário dela acede à nave por arco redondo. Encerrando a imagem do patrono da Congregação dos Crúzios, este surge-nos vestido de Bispo e segura na mão direita um coração em chamas e na esquerda o báculo. Separadas por lisos fustes encabeçados por capitéis coríntios dourados, iguais aos que encontramos nas restantes Capelas, é ladeado, pelas imagens de Santa Mónica, sua mãe, á esquerda e Santa Madalena, à direita. Ambas as imagens repousam em peanhas finamente trabalhadas. No topo, ao cento do retábulo todo ele dourado em 1997, abre-se um óculo redondo por onde transparece a luz exterior.




No lado direito a Capela do Senhor Crucificado de fronte à do Senhor dos Passos. Tal como o nome indica, a imagem presente é a de Jesus Crucificado. A seus pés, na base do retábulo dourado em 1996, está a imagem de Nossa Senhora das Dores. A ladeá-lo, São Sebastião e Nossa Senhora da Conceição, em imagens de menor proporção.

A seguir a esta e do mesmo lado, a Capela de São Teotónio, primeiro Prior de Santa Cruz de Coimbra, em tudo idêntica à fronteiriça Capela de Santo Agostinho, mas cujo retábulo foi dourado apenas em 1998. Esta imagem é venerada em todos os mosteiros que pertenceram à Ordem de Santo Agostinho. Flanqueiam São Teotónio, São José e São Joaquim.

A entrada para a Capela Mor é feita através de um imponente arco de volta prefeita a que se chama Arco Crúzio. Acima deste, o frontão em cujo tímpano reside uma cruz. Neste Arco, ainda do lado da nave, podemos apreciar dois altares em sumptuosa talha barroca dourada.

O Altar do lado do Evangelho é o de Nossa Senhora do Rosário, cuja imagem até 1741 estava colocada naquela que é hoje a Capela do Senhor Crucificado. Até essa data este era o altar de Santo Agostinho. Sobrepujando-a um quadro ilustrando a recuperação da Santa Cruz pelo Imperador Heráclito. Existe na Paróquia um Livro de Actas datado de 1744, segundo o qual os padres dominicanos teriam criado nesta Igreja a Confraria do Rosário.




No Altar do lado da Epístola, mora a imagem de Santo António com as vestes de cónego regrante. À semelhança do anterior, é em talha dourada, e a encimá-lo está um coração em chamas, indicando que em tempos idos este seria o altar a Santo Agostinho. Desta feita, o quadro que encima e remata este altar representa o citado Imperador, descalço, carregando a Santa Cruz para Jerusalém.




Entramos na Capela Mor. O seu tecto em caixotões de pedra esculturados, é abobadado. No seu centro esculpido num caixotão maior está a imagem do cordeiro eucarístico sobre um livro. As paredes são revestidas a azulejo do séc. XVII. Todo o Retábulo Mor é uma obra de arte magnificentemente trabalhado em Talha Dourada. O Altar Mor, é emoldurado por um arco de três arquivoltas, sustentadas por dois conjuntos de duas colunas, uma redonda e outra quadrada, todas com motivos fitomórficos majestosamente trabalhadas. O seu tecto, em caixotões de madeira também trabalhada e dourada, é abobadado.



Possui ainda este templo, um belíssimo órgão de tubos da autoria de Arp Schinitger e cuja data inscrita dentro da sua caixa, 9/V/1701, atesta a antiguidade do mesmo. Embora possivelmente tenha sido anteriormente reparado, em 2000, por se encontrar em elevado estado de deterioração, este instrumento musical foi restaurado pela firma de Georg Jann.